Sempre tive medo de marimbondo.
Desde pequeno.
Uma vez em que brincava com meu primo lavando o quintal.
Ouvi aquele zumbido alto,
um som que não parecia vir de asas,
Mas feito, quem sabe, por uma boca.
A coisinha veio, atrevida,
Voando perto do meu rosto.
Por reflexo,
e um tanto de ingenuidade eu dei um tapa.
O tempo parou.
Desviado de sua rota,
a criatura fora empurrada pouco mais de um metro.
O marimbondo, arisco, sentiu-se profundamente ofendido.
Sei lá eu por que cargas d’água procuram água,
Não fiz por mal.
Ele veio, eu o ofendi, e apesar de pequeno
(quem sabe até por esta razão)
Ele pareceu ficar transtornado.
Veio diretamente em meu rosto,
E desta vez não por um passeio distraído.
Por ira!
Ai de mim.
Meu coração acelerou.
Eu devia ter por volta de onze anos,
e percebi algo notável:
O marimbondo, tomado por raiva, parecia três, quatro vezes maior
Novamente, e desta vez não por reflexo, mas por medo,
Dei outro tapa.
A criatura voltou furiosa em outra investida,
levou outro tapa,
E então me despistou.
Passou por entre as minhas pernas e posou em minha cabeça.
Sua raiva fora então descarregada em uma ferroada rápida e certeira.
Dedicado a penetrar seu pequeno e poderoso ferrão em minha pele,
Distraiu-se, pobrezinho.
Eu dei outro tapa.
Desta vez ele estava fraco.
Derrubei-o. Caiu no chão. Eu pisei.
Não uma pisada violenta e brutal,
Mas a pisada frágil típica de uma criança assustada.
E ele,
com seu traseiro imenso esmagado,
agonizava.
Encarei a pequena criatura.
Teria sido o tapa o motivo de sua ira?
Teria o marimbondo,
Quem sabe?,
já saído de sua colmeia
a procura de um confronto que pudesse lhe dar fim à vida?
Teria esta batalha sido o grande momento de sua breve existência?
As asinhas batiam assustadas quando,
Por compaixão,
O esmaguei.
O marimbondo morreu,
E eu acredito,
Sabendo que havia deixado na minha pele um ferrão,
E na minha história este breve incidente
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