Ah, como você é bonzinho... Como ela é meiga, né?
Se você nunca ouviu isso de alguém, então você já disse isso para alguém, ou sobre alguém.
Hoje eu quero conversar sobre a desconstrução da bondade
Como disse, você já ouviu de alguém algum questionamento sobre a sinceridade de alguma atitude sua, ou já fez ou ouviu alguma observação sobre a sinceridade de algum gesto bom em alguém.
E tudo bem, em qualquer um dos dois casos.
Mas tudo bem, modo de dizer... No fundo, não tá tudo bem. Mas depende do que você escolher a partir de agora.
Eu percebi, ao longo da minha vida, que toda vez que eu fazia algo movido pelo meu coração, quando fazia algo bom, quando aconselhava alguém a seguir sonhos, eu era avaliado moralmente muito mais do que quando eu fazia algo errado.
Não é uma loucura?
Uma vez uma pessoa muito querida disse que bandido bom era bandido morto na minha frente.
Bom, é uma opinião. Mas minha resposta foi “o que Jesus diria sobre isso?” e a pessoa desenvolveu seu argumento dizendo que você não pode ficar de braços cruzados se alguém te fizer um mal.
Eu lembrei a essa pessoa, uma pessoa cristã, que Jesus Cristo, a quem tenho como modelo, não como ícone de adoração, disse que deveríamos dar o outro lado da cara pra bater.
“Ah, mas a gente não pode ter sangue de barata...”
- Você está me dizendo que Jesus Cristo tinha sangue de barata?
Silêncio...
Uma pessoa certa vez me questionou a facilidade que eu tinha de perdoar pessoas que me faziam de idiota, que mentiam pra mim ou que eventualmente tivessem me manipulado. “É só te dar uma figurinha que você perdoa”. Afinal, perdão é sinal de fraqueza?
Eu me orgulho de perdoar, especialmente porque isso me lembra de que não fui eu quem agrediu ou traiu a confiança e o afeto. Se alguém tem que ter vergonha de algo, esse alguém é quem mente, quem fala pelas costas dos outros. E mesmo quem faz isso, pode mudar um dia.
Se pessoas fracas fossem capazes de perdoar, o mundo seria maravilhoso, porque se perdão fosse fácil de ser praticado, não haveria discórdia no mundo, disputas familiares, vinganças, ciúmes. Se uma pessoa foi cruel comigo, eu não preciso retribuir a isso. Eu perdoo. Se alguém foi mal comigo, quem foi mal foi a pessoa. Quem tem que se envergonhar é quem não é capaz de pedir desculpas. De reconhecer a um erro.
Eu não tenho que ser igual. Eu não me medir por baixo. Só eu sei quantas vezes fui julgado pelo olhar de amigos ao procurar no bolso algum troco para dar a alguém que está na rua. “Você sabe o que essa pessoa vai fazer com esse dinheiro?”
Bom, eu sei o que eu faria. Eu comeria. Não cabe a mim julgar a pessoa que já está na rua. Eu tenho dinheiro pra dar ou não tenho. Eu tenho algo de comer no bolso pra oferecer ou não tenho. Simples assim.
Ou, na mesma situação, a pessoa comigo reage dizendo “eu vejo as pessoas assim, precisando, pedindo, e sempre penso, o que eu poderia fazer, sabe? Será que dar dinheiro ajuda? Será que não estou retroalimentando a situação da pessoa?”. Então, e enquanto a você pensa, a pessoa com a barriga vazia vai a procura de outro que tenha mais boa vontade que você em ajudar sem olhar a quem e sem pensar demais antes de fazer o bem.
A verdade é, talvez eu até esteja retroalimentando o problema, ao dar dinheiro pra quem mora na rua, mas não muda o fato de que a pessoa está com fome agora e não dá pra esperar você pensar numa solução mágica pro problema dela, coisa que a gente sabe que você que jamais irá fazer. Porque quando a gente realmente se importa, a gente faz na hora, a gente faz o que a gente pode. E as vezes o máximo que podemos é dizer, “lamento, não tenho como te ajudar hoje”.
E quando quem não se importa vê a gente fazendo, julga a gente, ou quem a gente está ajudando. E começa a desconstruir o nosso desejo de fazer o bem. De ser útil.
E ai você é gentil com desconhecidos, e alguém questiona se você não está sendo falso. Eu não pago imposto para dizer bom dia pra ninguém. Porque economizar? Aí você opta por fazer as coisas de uma maneira que não tire vantagem de outras pessoas e você está querendo chamar atenção pra mostrar que é honesto. Você fala e defende direitos humanos, tá querendo dizer que você se importa mais do que os outros.
Gente, vamos tomar um café. Precisamos conversar...
Tudo isso gera um acúmulo de stress que culmina em todos nós tendo vergonha de fazer a coisa certa porque a gente é julgado mais quando faz a coisa certa do que quando faz a coisa errada. “A Angelina Jolie virou embaixadora da ONU porque ela quer mostrar que é boazinha”. Publicidade. A verdade é que quem elogia Jesus hoje, o crucificou ontem e votou no Judas hoje, porque quando alguém defende a vida dos outros, essa gente diz que quem tem amor ao próximo e compaixão faz isso pra aparecer, não por amor e solidariedade. Jesus seria crucificado de novo. Desta vez por haters em suas redes sociais.
Eu quero com esse artigo dizer pra você... Pra você. Você mesmo. Não abra mão do seu desejo de mudar o mundo porque as pessoas preguiçosas vão dizer que faz isso pra aparecer.
E quando você defender algo sem ser hipócrita, vai receber um rótulo de hipócrita dos hipócritas. Acredite. Vão reclamar de um jeito ou de outro, então não deixe de mudar o mundo só porque alguém vai dizer que faz pra aparecer.
Haverá, no seu caminho, muitas pessoas pra celebrarem tudo de bom que fez e sonha fazer por si e pelo mundo. “Ah, como você é bonzinho, né?”. Sim. Não tenha vergonha de não sonegar impostos, não tenha vergonha de defender vidas injustiçadas, não tenha vergonha de perdoar pessoas que te feriram algum dia, não tenha vergonha de ser você mesmo ou mesma a volta de Jesus. Não tenha vergonha de ser A MELHOR PESSOA QUE PUDER SER só porque algumas pessoas dirão que não é sincero.
Quem tem que saber da pureza das suas intenções é você. E você faz as coisas certas porque é o que seu coração pede. Não desconstrua a sua pureza nem a bondade do seu coração só porque as pessoas ao seu redor escolheram a vaidade, o dinheiro e a futilidade.
Mude o mundo. É pra isso que você nasceu. Eu vou ficando por aqui.
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