Dona Bêuba e sua extraordinariamente irrelevante vida
[Este conto possui linguagem inadequada para menores de idade.]
Em algum
lugar da Bahia, escondia-se a discreta cidade de Itaxoxota do Norte. Povoada
por dois mil habitantes, Itaxoxota era muito conhecida por seus munícipes
excêntricos. Dona Bêuba era uma mulher famosa. Não havia em Itaxoxota quem não
a vira com os peitos pra fora da roupa. Não por ser mulher da vida, por ser
cachaceira mesmo.
Dona Bêuba
chamava-se Izildinha de Gonzaga Herculana Conceição Imaculada de Jesus.
Chamavam-na de Beuba porque certa vez estava beijando um poste de luz apaixonadamente,
“Óli lá! Izildinha tá bêuba” gritou alguém. O policial recém chegado em
Itaxoxota se aproximou “Dona Bêuba, tenha modo senão vai presa”.
- Eu tô
bêuba, e a senhora tua mãe ta...
Bastou. Foi
levada para a delegacia. Apareceu no noticiário local, ficou famosa na
internet. O bordão, repetido pelo povo de São Paulo e do Rio de Janeiro era:
“Si to bêuba, num sei. Sei qu’eu tô feliz! Rá-rá-rá” Olhou pra câmera com olhar
obsceno, e é imitada até hoje no sudeste do Brasil pelo incidente.
Publicado originalmente em 28 de março de 2012 em meu antigo blog. |
Dona Bêuba
tinha 33 anos. Era meio barrigudinha. Tinha dinheiro pra cachaça porque era
aposentada por invalidez. A mão esquerda dela fora decepada numa maquina fazer
caldo de cana. Foi trágico, pois ela quase morreu, mas depois ela até gostou da ideia, porque era canhota e detestava escrever.
Bêuba tinha
um sonho. Ver sua filha, Cleonice casada com um bom homem. Se orgulhava muito
de sua filha, virgem, e sabia de seus sonhos inocentes com o príncipe
encantado. Seu sonho era casar Créu com Helinho, filho de um fazendeiro da
região. Créu era bonitinha e meiga. Tinha suas chances.
Bêuba não
sabia quem era o pai de Créu.
Bêuba,
alias, não sabia de muita coisa. Afinal, estava sempre “Bêuba”, xingando as
latas de lixo da rua, que pareciam segui-la, e chamá-la de pinguça.
A maior
decepção de Bêuba era saber que Weliston, seu filho, se mudara pra São Paulo, e
colocara silicone nos peitos e tinha um nome feminino que ela se recusava a
repetir (mas que digo mesmo assim: era Jamilly). Bêuba não gostava de “bichas”. Pra ela, as “bichas” eram
obra de Satanás, e ela dizia sempre que podia, para sua filha Cleonice, que
“Mulé que chupa grêlo vai pro inferno quâno morre”.
A verdade é
que ela na juventude fugira constantemente para Serro Azul com suas amigas e
alugavam quartos em hotéis baratos e interagiam libidinosamente. Bêuba não se
envergonhava, porque achava que ninguém sabia disso, mas era um engano.
Elinete,
filha de dona Creuza, antes de morrer de dengue confessou a sua mãe e ao padre
que ela e Izildinha foram namoradas, que Izildinha era o homem da relação, e
que foram o grande amor uma da vida da outra.
Dona Creuza sempre quis ver Bêuba
morta, por ter levado sua pobre filha para os caminhos perversos do
belzebu-monstro, e tê-la feito virar um sapatão. Elinete era uma dondoca, e a
verdade é que ela havia namorado todas as sapatonas de toda aquela região da
Bahia.
Outrossim,
era por isso que Bêuba condenava a sapanotagem. Sua antiga namorada a traíra
com mulheres muito melhores que ela. Ficou bêuba, como qualquer outro bêubo que
se vê por aí, pela chifredão da vida...
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