A máscara que vestimos entre a pele e o tecido
Eu estava refletindo sobre as máscaras que “as pessoas” usam na hora de se apresentarem para o mundo. E fiquei buscando me contextualizar no universo particular de cada situação que me vinha à cabeça. Fiz uma lista. Olha só:
- Tem aquela máscara da pessoa boazinha, gentil, sorridente, simpática, mas que parece ter algum segredo;
- Tem aquela máscara da pessoa bem resolvida, simpática, mas que parece ter algum segredo;
- Tem aquela máscara da pessoa bem resolvida , prepotente, que parece ter algum segredo;
- Tem a máscara daquela pessoa blasè, que demonstra indiferença às opiniões de todo mundo, e que parece ter algum segredo.
- Tem a mascara da pessoa engraçada também.
- Aquela outra pessoa excessivamente modesta, que parece sempre não reconhecer o valor daquilo que faz, e parece ter algum segredo.
- Tem aquela máscara da pessoa que se esconde atrás das referências culturais, políticas ou literárias para sempre que abrir a boca parecer genial,
- Tem aquela máscara da pessoa caótica que justifica em seu caos a razão perfeita para nunca fazer as coisas direito.
Eu não tenho a menor dúvida de que você certamente reconheceu alguém em cada um desses exemplos. Mais ainda, não tenho dúvida de que também se reconheceu em algum.
Sabe o que todas elas tem em comum?
O segredo. E um sonho.
O segredo é sempre o mesmo. É sempre alguém preso em um lugar solitário em busca aprovação, ou simplesmente sobreviver.
O que busca aprovação acredita que em algum momento alguém vai perceber a verdade de seus sentimentos sem precisar dizer nada. E o que quer sobreviver acredita que seus sentimentos são incompreensíveis a qualquer pessoa então, melhor agir como se não os tivesse.
Por conta do segredo, todas as pessoas sofrem do mesmo julgamento: “falsidade”. Afinal, quem nunca usou, ou não usa, uma máscara para a vida social que atire a primeira pedra.
Eu, por exemplo, eu sou artista. Escrevo desde os meus doze anos de idade, sou ator. Sem modéstia, sou bom no que faço. É o que eu amo fazer, afinal de contas.
Viro noites em claro estudando, não lamento das experiências difíceis que a vida me trouxe: trato a todas elas como nutrientes para que eu me torne um artista melhor. Com mais compaixão, empatia. Mas aí vinha a autoestima quebrada porque ninguém parecia apreciar ou se interessar pelo que eu fazia.
Então eu ia a lugares e sabia fazer o que me propunha a fazer e ficava me desculpando por me sair bem, ou procurando defeito e enaltecendo o que eu pudesse fazer de errado para parecer humilde. Autoestima baixa é um problema que todo artista sofre. Mas vou reservar esse assunto pra outro artigo.
Vamos voltar para as outras máscaras. Porque uma pessoa se faz de boazinha?
Talvez ela queira ser vista dessa forma. O que significa que ela acredita que características como modéstia, humildade, ingenuidade sejam traços que mereçam apreciação. Se você se esforça para ser bom, talvez você já seja bom como gostaria, e o esforço te faz parecer uma pessoa falsa, o que você provavelmente não é.
Veja a pessoa que se esconde por trás da inteligência, dos diplomas, das referências específicas intelectualizadas e do vocabulário sofisticado. Pense no tamanho do medo de tomar decisões equivocadas que essa pessoa tem.
Pra essa pessoa, é preciso ter certeza absoluta de que em hipótese alguma dirá algo que possa se arrepender depois, ou fazer algo que possa algum dia causar constrangimento. O vocabulário difícil, a excentricidade, no fundo, não passa de uma roupa de marca que essa pessoa tem para se sentir segura de que tem algo que outras pessoas não tem.
Percebe?
Mas essa pessoa pra se nutrir de tanto conhecimento já está mais do que apta para viver de forma espontânea e produzir qualquer coisa com qualidade. É só relaxar e ser a pessoa que as lágrimas no travesseiro conhecem.
Já é hora de mostrar para o mundo quem você é de verdade.
E ai vamos para a máscara do sarcasmo. Porque fazer piadas com as opiniões de todo mundo?
Porque essa pessoa tem medo de estar errada, do contrário ela apenas discordaria. Eu preciso te fazer parecer um pateta pra eu conseguir lidar com o fato de que eu tenho medo de você, ou você me faz lembrar algo que me fez chorar algum dia. E que eu ainda não curei.
E a máscara da pessoa que defende a moral e os bons costumes? Por trás disso existe uma vida com tantas regras e tantas coisas que a pessoa quis fazer e não deixaram que ela precisa criminalizar ou demonizar a liberdade do outro.
E isso pode ser até uma profissão. Eu querer estudar história, querer visitar museus, conhecer a Europa, o mundo, e meu pai ser, sei lá, qualquer profissão mais estável. E ai eu não sigo meu sonho, e acabo reprimindo outras pessoas por eu ter sido reprimido um dia.
Então chega essa pessoa espontânea, que faz o que quer ou gosta e ela parece uma aberração.
Se você critica alguém por questões morais, verifique que liberdades foram tiradas de você na infância ou juventude. Porque a culpa não é sua de você se sentir assim. Mas vai ser se você descobrir onde começou e insistir em agir da mesma forma.
Percebe que todos nós já julgamos alguém por qualquer coisa, mas no fundo todo mundo se sente do mesmo jeito? No fundo todo mundo é só uma criança que precisa de um pouquinho de paciência e afeto.
Você pode ser mulher, homem, ter 12, 19, 32, 55 anos. Você, eu, somos apenas crianças precisando de um pouquinho de paciência e afeto. Se ninguém quis me dar isso, então cabe a mim me proporcionar a partir de agora.
Quando a nossa máscara cair, vamos aproveitar?
Vamos olhar no espelho e nos lembrar de quem somos de verdade?
Vamos recomeçar.
Não usar uma máscara pode significar deixar espaço livre para que alguém coloque um rótulo no lugar. É verdade.
Mas as minhas máscaras me sufocavam demais e isso fazia com que Eu rotulasse as outras pessoas, porque Eu via o mundo pelos buracos de uma máscara, e o que enxergava era uma verdade falsa e bidimensional.
Eu não era quem vim ao mundo pra ser.
Já se deu conta de que você também faz com os outros tudo o que reclama que fazem com você?
Antes de encerrar esse artigo, eu convido vocês a serem mais amorosos com as máscaras que usam ao seu redor. No fundo todo mundo quer ser reconhecido por aquilo que faz de bom, e algumas pessoas ainda nem descobriram o que é. Seria legal se, ao fim desta quarentena, eu saísse na rua e visse, além do céu mais azul, as pessoas respirando melhor, pois respiram sem esconder quem realmente são.
E, olha, se te botarem um rótulo, é só tirar. O seu sorriso sempre será a sua melhor resposta, e ele só será visto de verdade quando você souber, realmente, quem é.
VÍDEO SOBRE O ASSUNTO:
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